sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O COLECIONISTA - publicação 30



Sentimo-nos admiravelmente incentivados e agradecidos pelos 221.206 visitantes (até hoje, 30 de novembro de 2018) ao blog do nosso museu, originários de uma centena de países.

Dentre estes, destacamos as dez primeiras posições: 

Visitantes do Brasil 142.080; Estados Unidos 41.347; Portugal 15.002; Russia 7.223; Alemanha 2.020; França 1.407; Espanha 910; Ucrânia 450; Irlanda 431; Polônia 367;...

A postagem de hoje refere-se à peça mais importante de qualquer acervo de antiguidades: “O Colecionista”

Conforme o Houaiss, a coleção é uma reunião ordenada de objetos de interesse estético, cultural, científico, etc., que possui valor pela sua raridade ou que simplesmente, desperta a vontade de colecioná-los.

Imagina-se que o hábito da coleção tenha iniciado a partir do interesse pela guarda de objetos. Assim, presume-se que os pré-históricos, que já utilizavam ferramentas (de exaustiva confecção), guardavam-nas para utilizá-las por muito tempo.
Parte de nosso acervo de antigas máquinas manuais de costurar

Dentre as instituições que preservam objetos, destacam-se as bibliotecas. A mais famosa do mundo foi a Biblioteca de Alexandria (século III) a qual, segundo lenda, continha a fórmula da imortalidade. Certamente tal citação seja metafórica, relacionando o conteúdo dos livros com a perenidade do pensamento humano. As bibliotecas eram cognominadas “tesouros dos remédios da alma”, pois que nelas se curava a ignorância, que é a mais perigosa enfermidade e causa de todas as outras.  Tal asserção é perfeita para a nossa atualidade.
Meio século dedicado à preservação das máquinas
Nós, os colecionistas, consagramos grande parte da vida (no meu caso, mais de meio século) na preservação e acervamento de objetos, para tornar mais viva, colorida e tangível a história da humanidade.  
Máquinas centenárias, majestosas e presentes

Todos navegamos por semelhantes mares, em naus distintas, embora com específicos objetos. Assim, abençoados com a beleza do passado, usamos estes exemplares como alicerce para galgar os pródigos futuros em terra nobre e firme. Direcionamos o leme, perscrutando itinerários e objetivos, no interesse de salvaguardar a memória, tornando-a física e visível, para que nossos descendentes tenham a oportunidade de visualizá-los.
No Museu Arenas – Colonia Del Sacramento – Uruguay

Entre nós, possuímos uma afinidade empática. Algo como uma demonstração de sensibilidade comum. Uma comprobatória evidência na identificação de interesses recíprocos que excede a mera expressão verbal.
Com o Angelo Sprícigo (104 anos de idade e 1700 máquinas)

Dentre tantos, frequentemente visitamos o Museu Angelo Spricigo (Concórdia – SC)  cujo proprietário, o “Vô Ângelo”, a personificação de uma bênção divina, presente, viva e compactada em seu franzino corpo, mantém, com o neto Valdecir, o maior acervo de máquinas de costurar do Brasil. 
Dedicando um dia de restauro ao Museu Sprícigo
Considero que os museus estabelecem uma sólida ponte ligando o passado ao presente e oferecendo a sólida base para sustentar o futuro.
Não há evolução sem a conexão da cultura histórica
Os museus abastecem com informações do pretérito, aplicáveis ao contemporâneo, 
num longo percurso em curto lapso de tempo.  (Museu do Automóvel – Bruxelas – Bélgica).
Na intenção de conscientizar as comunidades desta fundamental e imprescindível necessidade, já proferimos palestras em encontro de museólogos, simpatizantes e leigos onde muitos se mostravam entediados com o enfadonho assunto.  E também já recebi visitantes, até ilustres autoridades, que comentaram sobre a “alienação mental de quem vive no passado, em detrimento de alguma atividade mais moderna e útil”.

Sempre respeitamos todas as opiniões, preceitos, comentários e críticas, pois estas manifestações também estimulam nossa dedicação.

Visitamos centenas de museus pela Europa (vide “felizmotorhome.blogspot.com.br”), onde confirmamos o digno paralelo entre a demonstrada cultura da população e seu apreço ou devotamento às instituições museológicas.
Alguns ouvidos surdos e mentes alheias, tais estátuas
O nosso Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) integra o Cadastro do Ministério da Cultura e é um acervo particular e privado, que desenvolve pesquisa na evolução mecânica e social deste importante instrumento mecânico, com abrangência no intervalo entre 1850 e 1950 (época auge de sua produção e utilização).

Esta disponibilidade informativa apresenta as etapas evolutivas das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais, incluindo a estética, proteção do próprio corpo às intempéries, e a indiscutível participação da máquina de costurar na emancipação da mulher, cujo desenvolvimento iniciou e progrediu num dos resultados da revolução industrial, no seio europeu, em meados do século XIX.  

Como objetiva diretriz, visamos a preservação histórica da máquina de costurar, que é o segundo instrumento mecânico mais importante da história humana: (o primeiro é o arado).  Possuímos um acervo de mais de uma centena destas antigas máquinas, com reserva técnica, oficina de restauro e manutenção.
Nossa oficina de restauro faz milagres (foto de antes e depois).
Lamentavelmente, observamos que a manutenção dos objetos acervados nos museus brasileiros é deficiente. Comumente suas peças estão deterioradas, com limpeza ou restauro mal executados, utilizando produtos impróprios, cáusticos, alterando a constituição das peças, ou solventes que alteram suas cores ou deterioram partes delicadas, comprometendo a estrutura e estética.   

No que se refere à preservação histórica, nossa soberania vergonhosa e infame, comprovada nas matérias publicadas (BBC News Brasil on Twitter):

“A verba destinada ao Museu Nacional no ano de 2018 equivale a dois minutos de gasto do Judiciário brasileiro. 
O governo Chinês está exigindo devolução de peças que foram doadas a museus de todo o mundo e que não estão recebendo a devida manutenção.
O ministro da cultura do Egito afirmou que o incêndio do Museu Nacional foi um ataque à memória de seu país, pois muitas relíquias (múmias e sarcófagos) foram destruídas. Assim como outros países já se manifestaram, solicita a repatriação das peças ainda existentes.”

Receio que os museus fiquem à deriva, após a última viagem de seus capitães
Tais observações revelam desconhecimento daqueles que teriam a obrigação de preservar nossa história.  Ocorre que, normalmente, os museus são vinculados a municipalidades ou entidades que alternam sua direção e assim, os próprios funcionários não possuem interesse ou tempo de dedicação para angariar conhecimento na área, embora possam consagrar o melhor de sua capacidade.

É conveniente ressaltar que não podemos culpar exclusivamente a falta de subsídios financeiros, mas também  o desconhecimento, a imperícia, a negligência,...

Será necessário entender que a preservação destes objetos constitui uma página viva, tangível, da história da civilização.  E que a falha em sua manutenção promoverá uma quebra irreparável na interpretação de nossa visível sequencia histórica.  Uma criança ou adolescente é infinitamente melhor sensibilizado ao ver, sentir e analisar um objeto que marcou época do que imaginá-lo através de gravuras bidimensionais ou pior, explicações verbalizadas ou textos de interpretação pessoal e inerente ao leitor.

Darlou D’Arisbo  novembro de 2018

museumaquinascosturar.blogspot.com.br