sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Weed – 135 anos __________Publicação 17

 

Na intenção de preservar a história em peças tangíveis, agregando conhecimento de forma prazerosa e lúdica, o Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC),  apresenta o relato da fatigante tentativa de restauro de uma Weed, fabricada em 1877.

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

Adquiri a máquina Weed, modelo Family Favorite, na Feira do Brique de Porto Alegre, a qual, apesar da macabra aparência, apresentava a ilusão de “quase” completa.

Esta indústria iniciou em 1860 (Nashua, New Hampshire) e, após 1865 instalou-se em Hartford, Connecticut. Os modelos Family Favorite, tiveram sucesso de vendas entre 1870 e 1880, com produção de mais de 300.000 máquinas, grande parte exportada para a Europa.

Este raro exemplar que resgatei, certamente chegou ao Brasil na bagagem de algum antigo imigrante europeu.

Weed

A absoluta raridade do exemplar justificou a compra, porém seu estado era deplorável. Ao analisar com mais desvelo, comprovei que ela esteve sujeita às intempéries por décadas, o que ocasionou decorrente corrosão geral. Tornou-se evidente que lhe foi aplicado jato de areia e também ácidos corrosivos (nocivos e proibitivos), na condenável intenção de “desenferrujá-la”.

Tais procedimentos promoveram sólida união entre suas partes móveis, tornando-a um monólito escultural. Além disso, dezenas de peças estavam tão deterioradas que apenas sinais restavam. Seu aspecto exterior apresentava milhares de rígidas pequenas “verrugas” de óxido de ferro, com difícil remoção e, quando possível, permaneciam as sequelas “cáries”.

Possuía duas comprometedoras rachaduras abertas, uma na estrutura superior e outra no túnel do eixo vertical. E todas suas peças mecânicas antes “móveis”, apresentavam-se como se estivessem fundidas juntas.

O lendário Ulisses, rei de Ítaca, que utilizava ferrugem para tratar feridos de guerra, estaria plenamente satisfeito...

Mesmo sob tais obscuras contingências, submeti-me á impossível tarefa de desmontar o possível para intentar melhorar sua configuração.

Weed 01 Rachadura aberta

Durante vários dias empreguei sucessivas aplicações de desengripante, banhos térmicos, impactos físicos, lixamento,.. no intuito de “encontrar” os parafusos camuflados pela corrosão..

Quando as tarefas são muito cansativas e sem vislumbre de sucesso, o “gênio do mal” passa a sussurrar palavras de desânimo em meus ouvidos, numa dialética platônica entre ele e meu inseparável, dileto e capaz “anjo da guarda”.     Este, sempre incentivador, acompanha-me insone pelas madrugadas frias, encorajando-me e até aplicando inexplicáveis forças celestiais para desemperrar peças e obter êxito nas impossíveis empreitadas.

Nos limites da paciência (teimosia?) consegui remover várias peças, para tentar “limpá-las” em separado, porém alguns parafusos “decapitavam-se” com os esforços de torção. Outras peças apresentavam tal estado de corrosão que impediria até a própria recolocação. Assim como a limpeza abrasiva, que certamente alteraria suas dimensões.  As roscas dos parafusos e respectivas “fêmeas” nas peças, após restauradas, dificilmente “casariam” novamente.

Weed 13 Peças removidas, manopla da embreagem tampas da lançadeira já recuperados

Como a estrutura da máquina é de aço com baixo teor de carbono, o que lhe confere uma fragilíssima resistência à flexão, semelhante a uma pequena barra de giz, “todo o cuidado é pouco”... é pouco.  Além disso, dificilmente é soldável, pois raras ligas são compatíveis, necessita aquecimento prévio e, graças a tensões residuais em sua fundição, facilmente altera sua conformação.   Mas possui vantagens: tal liga metálica permite lixamento, torneamento e furação com muita facilidade.

Com as peças mergulhadas em removedor de oxidação (Remox) por 24 horas, dediquei-me à recuperação das rachaduras.

Weed 02 Adequação para solidarizar

Realizei um desbaste parcial na estrutura superior, fiz um orifício atravessando as duas partes, apliquei resina bicomponente (Araldite) entre elas e coloquei um parafuso forçando a união das partes.

Weed 03 Parafuso e porca colocados

Após o devido aperto, no dia seguinte, a cabeça e a porca foram parcialmente desbastados, para o preenchimento e conformação com massa bicomponente (Durepoxi). Tratamento semelhante foi dispensado à outra rachadura (túnel do eixo central), com colocação interna de um “canudo” de aço inoxidável.

Weed 05 Árduo trabalho, com calços de madeira para manter a altura e alicate de pressão para assegurar alinhamento

Mas, após dois dias na “prensa”, tive a desagradável surpresa: Credne, o ferreiro deus Celta, omitiu seu apoio e, as tensões desenvolvidas provocaram outra grande rachadura, além de desalinhar as anteriores...  

Assim, caiu toda a estrutura frontal, dificultando o já impraticável restauro. O “gênio do mal” teria implantado seu governo na almejada realização. Todas as peças foram então jogadas em uma caixa, acervada como raríssima reserva técnica.  Um triste fim para a nobre raridade.

Várias noites após, enquanto eu dormia, o meu anjo da guarda voou até uma metalúrgica e vasculhou os diferentes varões de solda MIG, até encontrar uma liga metálica inoxidável “possivelmente” compatível com o material da máquina.  Não foi difícil convencer-me em recomeçar a árdua faina.

As partes antes adesivadas, foram limpas em escova rotativa de aço, realizados chanfros em bisel (oblíquos), para preenchimento com a solda metálica.  E, para evitar incorrer em tensões térmicas, deixei espaços (0,2mm) nas três rachaduras existentes, características em detrimento da estética, mas derradeira tentativa de reestruturação.

Levei a “paciente” até a metalúrgica e, depois de vários experimentos, confirmamos que a única liga compatível seria aquela... 

Weed 06  Soldas: (1) Estrutura frontal superior; (2) Túnel do eixo vertical; 3) Estrutura frontal inferior

Weed 08Como as soldas cobriram apenas os chanfros, os espaços remanescentes foram preenchidos com massa (Durepoxi).

 

 Weed 09   Weed 12 

Mancais (alojadores do eixo virabrequim), patinha e reguladores de tensão recuperados

 

Weed 10 O eixo virabrequim, recolocado e a posição da curiosa embreagem

As demais peças foram sendo reconduzidas aos devidos locais, outras foram-lhe adaptadas de reservas técnicas, assim como executada a base de madeira, para servir-lhe de apoio, tentando assegurar a estética mais aproximada possível de sua originalidade, embora mantendo suas indeléveis marcas do tempo e, principalmente a demonstração de seu irremediável padecimento submetido a anteriores mãos desabilitadas.

Weed 14  Weed 15

Assim, mais que um frustrado restauro, todo o trabalho resultou em formal homenagem, um atestado existencial de sua presença na história do desenvolvimento  mecânico deste importante instrumento para a evolução da humanidade.

À esta padecida e centenária Weed de 1877, sinto-me honrado em poder permitir-lhe mais muitos aniversários.

Prof. Darlou D’Arisbo – novembro de 2012

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

“Clemence” ____________ Publicação 16

 

Consideramos missão do museu, tão essencial quanto a preservação da história, a informação transmitida  à sua comunidade, agregando conhecimento de forma prazerosa e lúdica.

Assim, o Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC),  apresenta hoje mais algumas curiosas peripécias na arte do restauro. 

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

A história da Clemence cujo título poderia ser “O transplantado morreu e a doadora ressuscitou”  ocorreu quando de seu pretenso descarte.

Esta antiga máquina de costurar Clemens Muller (689.073), agora batizada de Clemence, foi adquirida como sucata, em Bento Gonçalves/RS, no verão de 1978.   Faltavam-lhe muitas partes (volante, coroa, engrenagens, eixos,..) e o que existia, enferrujado, encravado, revelava difícil utilidade.   Ficou no depósito da nossa garagem por décadas, sem merecer fotografia.

Em 2001, com a organização do museu, ela recebeu uma breve limpeza, teve parte da mecânica inferior retirada, inutilizável mesmo para reposição.  Catalogada como possível doadora, foi depositada como reserva técnica.

Três anos depois, para a tentativa de retirada de uma engrenagem cônica interior, teve seu eixo desencravado. Foi após muito trabalho, por vários dias, que seu o eixo girou..  Como aquela engrenagem negou-se a sair, a máquina voltou novamente para a reserva técnica.

Em 2008, teve a fronte desmontada, para retirada do cursor vertical (da agulha), mas como não serviu na máquina receptora, foi novamente reconstruida e recolocada.  Pouco depois, encontramos num ferro velho um volante Clemens Muller, com seu eixo excêntrico quebrado.   Um eixo similar foi executado para outra máquina, mas não serviu e foi guardado.

P8302159Coroa (engrenagem motriz)

Anteontem, ela foi desmontada para doação de peças à outra Clemens Muller, que estava em restauro. Observou-se, porém, que a engrenagem motriz desta receptora, servia na Clemence, porém não no seu volante, nem no eixo excêntrico.

Tentamos então colocar o volante do ferro velho, a engrenagem motriz desta e aquele eixo guardado, na Clemence. Quase perfeito, porém o diâmetro do eixo era pequeno e refazê-lo seria financeiramente inviável.

P8302158  Alguns órgãos transplantados na doadora

Na noite seguinte, ao beber uma lata de cerveja para arrefecimento do cérebro, surgiu-me a idéia: cortar uma fita do alumínio da lata e enrolá-lo no eixo, aumentando seu diâmetro.  Após algumas tentativas, com uma volta, duas voltas, .. serviu com duas e meia.. Montado o volante e a engrenagem motriz, foi feita a regulagem no excêntrico para encaixe dos dentes e a mecânica superior funcionou! Aleluia!

A fronte, anteriormente limpa, teve seus cursores e cames azeitados e foi encaixada no lugar. Parafusos novos (envelhecidos a fogo) foram colocados e as roscas fixas refeitas.  A tampa da lançadeira foi executada com uma lâmina inoxidável, com laterais cuidadosamente limadas para deslizar nas ranhuras da mesa.

O pé de madeira da pretensa receptora, foi adaptado à Clemence, assim como o seu brasão dourado. Pinos de suporte para carretel de linha foram colocados, terminais dos cursores,... e tudo o suficiente para sua funcionalidade.

Enfim, mesmo sem a parte mecânica inferior, a Clemence desabrochou das trevas da sucata e, após mais de três décadas de espera, de doadora passou a transplantada.  Agora incorpora o acervo das expostas, ao lado de outras 29 Clemens Muller, fabricadas em Dresden, há um século.

P8302166'”Clemence”  Clemens Muller

Tal a Cinderella, aquela da história infantil chinesa do século IX, nossa Clemence exibe-se solene e quebra o silêncio com seu ronronar metálico  multitransplantado.

Até a próxima

sábado, 18 de agosto de 2012

Manuais e Propagandas - Publicação 15

 

O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) é um acervo particular e privado, registrado no Ministério da Cultura, que desenvolve pesquisa e preservação deste importante instrumento.

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

Nesta 15ª publicação, apresentamos alguns impressos antigos (manuais de utilização e propagandas de máquinas de costurar).

Normalmente, os manuais de utilização das máquinas já vinham traduzidos para o português (clássico, da época).  E, como as senhoras não dominavam as interpretações técnicas, os livretos eram ricamente ilustrados, para ajudar a compreensão. 

Os desenhos, originalmente executados à mão (bico de pena e tinta nankim) ou por composição fotográfica, procuravam elucidar os procedimentos para melhores resultados de utilização.

Singer:

Singer-27K-28K-Pic-1  A capa do manual da singer (mod 27K e 28K – 1906) já apresentava o desenho “radiografado”  de toda a sua mecânica interna

 

Singer fio A ordem de passagem da linha na Singer Class 24 é minuciosamente numerada  

 

Vesta: 

002aa  As “Instrucções de uso” da Vesta  (L. O. Dietrich / Altemburg, Alemanha – 1910) insinuam grande produção de peças de roupa.

 

lançadeira  Na mesma, o procedimento para colocar o carretel na lançadeira é pormenorizado ao extremo, nos limites do hilariante.

 

010  …assim como todas as explicações constantes no manual da Vesta

 

“ Acumulador de Potência”:

Algumas curiosidades foram publicadas em jornais do fim do século XIX, como o “Acumulador de força Muscular”

Reserva potencia

Em novembro de 1885, “Sigg. Dohis e Leoni” inventaram um sistema mecânico denominado “acumulador de potência”.  Consistia em uma potente mola em espiral, acionada pelos pedais, que tensionava-se, movimentando a máquina por caixa de engrenagens por algum tempo.  Obviamente a energia era acumulada assim como os relógios antigos à corda.

 

Standard: 

gravura 1

No início do século XX, publicações apresentavam a revolucionária  bobina giratória, então adotada pelas máquinas “Standard” (Cleveland / USA), invenção mecânica que encerrou a fase da lançadeira. Observe-se, à direita, os fabricantes das máquinas convencionais (com lançadeira) desabando.  

 

 Davis:

Davis1

A industria Davis Sewing Machines, procurava transmitir o prazer de usufruir sensação de serenidade, utilizando vestimentas de notória beleza, confeccionadas com as máquinas Davis…

 

 White:

gravura 1890

A White Sewing Machine Co. (Cleveland/USA) apresentava uma propaganda exuberante, com desenho colorido e dissimulados símbolos de sociedade secreta, No centro, senhoras alegres e bem trajadas demonstravam as qualidades da máquina.

 

Peugeot: 

Peugeot

Em 1867, a Peugeot (pioneira francesa na fundição de aço) iniciou a produção de  máquinas de costurar e não cessou mais sua atividade de costurar até 1936, para se lançar na construção de automóveis.

 

Junker & Ruh:

Junkerr RuhhA Junker & Ruh (Carlsruhe, Alemanha) em 1880, divulgava sua produção de 30.000 unidades no ano e ufanava-se de possuir sua própria fundição.

 

Junker & Ruh projeto

Em 1877, George Whight, patenteou e comercializou na Inglaterra uma Junker & Ruh (batizada de Columbia), com curioso sistema de transmissão por corrente.

 

Stoewer:

Stoewer

A  alemã  Stoewer (Nähmaschinenfabrik Bernhard Stoewer), fundada em 1858, fabricante também de bicicletas e máquinas de escrever, orgulhava-se de possuir 1.000 empregados e produzir 18.000 máquinas de costurar no ano de 1883.

 

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Willcox & Gibbs:

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A Willcox & Gibbs declarava que suas máquinas excediam vinte anos de bom funcionamento, o que comprovamos pois que nosso museu possui uma, fabricada em 1870, ainda com o mecanismo ativo, embora com folgas decorrentes pelo desgaste da idade: 142 anos!

A incontestável evolução da técnica e o aperfeiçomento dos sistemas, permitem hoje uma grande velocidade de produção, porém em detrimento daquelas seculares características de bem durável e essencial.

Até a próxima

terça-feira, 15 de maio de 2012

Calços e Percalços do Colecionador – Publicação 14

 

O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) é um acervo particular e privado, registrado no Ministério da Cultura, que desenvolve pesquisa e preservação deste importante instrumento.

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

Nesta 13ª publicação, um inesperável relato episódico:

Retornando de viagem ao Chile e Argentina, com nosso motor home (www.felizmotorhome.blogspot.com), chegamos à sedutora Buenos Aires, a tempo de visitar a consagrada Feira de San Telmo (domingos, na Calle Defensa), onde ávidos garimpeiros encontram miríades de antiguidades.

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Realmente, a colossal feira é indescritível pela quantidade e fantástica pela variedade, com bancas distribuídas em dez quarteirões pela rua ou em galerias. Porém, infelizmente, os preços acompanham a recente escalada inflacionária da Argentina.

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Mas estes admiráveis detalhes compõem história para outro conto.

A competência deste relato reside a partir da aquisição de duas maquininhas infantis de costurar. Completas, dignas de compor nosso acervamento, embora carentes de parcial restauro. Fabricadas entre 1950 e 1960, com mecanismo metálico (ressalve-se: METÁLICO).

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Embrulhadas em sacos plásticos e metidas num sacolão, juntamente com casacos, água, biscoitos,... com o qual seguimos nosso passeio à pé pelo centro histórico daquela capital.

E, com o sacolão alçado no ombro, fomos já à tarde, visitar outros interesses próximos: museus, igrejas, ...

Como o Palácio do Governo (a bela Casa Rosada), estava aberto à visitação, lá fomos contentes invadir os íntimos de trabalho da presidente Cristina.

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A visitação é gratuita e disponível à qualquer turista que se submeta às longas filas e às aguardadas papeletas coloridas de senha.

Sem maiores dificuldades, ao adentrar ao palácio, passamos pelos detectores de metal, e o sacolão por uma esteira de Raio X, tal como nos aeroportos.

Nossa ingênua tranquilidade foi quebrada, pois que uma breve e surpreendente exclamação do taciturno agente fiscalizador, de olho no monitor, rompeu o silencio palaciano, seguida de sonora gargalhada:

Yo pensé yá ter visto de todo en la tele, mas isto yo nunca he visto, mirem, maquinas de coser chicas !, que cosas vemos acá! ”

A partir do episódio, ficamos famosos, assuntados pela guarda presidencial, ao percorrer os meandros da Casa Rosada, com duas maquininhas de costurar num sacolão ao ombro.

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Esta súbita tangibilidade do invisível, revela mais uma inusitada face, um pontual e hilariante ato, dos tantos que colorem o nobre ato de colecionar e o fascínio da descoberta em cada busca.

As viagens abrigam investigação e pesquisa, elas nos aperfeiçoam:  adicionam novos caminhos, alegrias, sabedorias, novidades, amigos, histórias e estórias. Levam-nos ao passado, ao presente e ao futuro.  Alimentam o doce viço da alma. Impulsionam e resumem o motivo do árduo e fascinante deslocamento.  

“O imenso prazer da chegada curva-se perante a majestade do percurso”.

Até a próxima

 

sábado, 24 de março de 2012

Willcox & Gibbs – Publicação 13

 

O Museu de Antigas Máquinas Manuais de Costurar (MAMC) é um acervo particular e privado, registrado no Ministério da Cultura, que desenvolve pesquisa e preservação deste importante instrumento.

“É vedada a utilização de quaisquer informações contidas em suas publicações,  para fins lucrativos ou comerciais, sem autorização expressa de seu curador, sob pena de indenização judicial.”

O MAMC, nesta 13ª Postagem apresenta o admirável desenvolvimento da indústria Willcox & Gibbs Sewing Machines, iniciada em 1850, a partir da criatividade e perseverança de um agricultor, residente em Rockbridge County, Virgínia.

Registros históricos citam que James Edward Allen Gibbs era um agricultor muito curioso, interessado no aperfeiçoamento de ferramentas, e que brincava com suas invenções nos intervalos das colheitas.

Mencionam que, partir da gravura de uma máquina de costurar Grover & Baker, vista em jornal da época, ele resolveu construir uma semelhante. Para tal, muniu-se de pedaços de madeira, um canivete e alguns acessórios agrícolas. A máquina, modesta e rudimentar, conseguia encadear pontos em tecidos, insinuando uma grosseira costura.

Willcox maq madeira 

Máquina de James A. E. Gibbs

Em 1856, Gibbs observou criteriosamente uma pioneira máquina Singer, exposta em loja de Washington. A partir dela, idealizou profundas modificações, assim como o sistema de ponto cadeia, no qual cada descida da agulha produz uma alça, que é introduzida na anterior por um gancho rotativo, formando uma sequente corrente (cadeia).

Wilcox & Gibbs I Sistema de cadeia (gancho rotativo)

Tal método revolucionou o processo de costura, pois os existentes utilizavam lançadeira inferior com a segunda linha para completar o ponto.

Em junho de 1857, Gibbs conseguiu patentear um mecanismo mais elaborado, sempre mantendo o sistema de ponto em cadeia, com o tecido tracionado por pequenas rodas dentadas.

pat 1857Primeira patente (cortesia Sewalot)

 

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1857 Máquina já industrializada (cortesia Mike Wolfgang)

No mesmo ano, já com uma pequena instalação industrial, fabricou e comercializou as primeiras máquinas.

As diminutas dimensões da máquina, sua eficiência e o baixo custo (metade do valor das demais) constituiram um grande sucesso comercial.

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Patente de agosto 1858 (cortesia Sewalot)  

A partir de 1858, a empresa prosperou e integrou seu filho Charles Willcox transformando-a em Willcox & Gibbs Sewing Machine Company.

Wilcox, também com característica engenhosidade, registrou várias patentes, como o tensor automático para a linha, executado em vidro; novo sistema de alimentação; redução de ruído mecânico,...

indústria Funcionários em frente à JR Brown & Sharpe (1870)

Neste ano, Willcox & Gibbs contratou a indústria JR Brown & Sharpe de Providence, Rhode Island, para produzir as suas máquinas de costurar, com esmero e qualidade muito confiável, por ser consagrada fabricante de relógios de precisão.

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Montagem da W&G na JR Brown & Sharpe (1879)

Para comercializar suas máquinas, Willcox & Gibbs abriu um escritório na renomada Broadway, em Nova York, no ano seguinte.

Enquanto outros fabricantes, como a Wheeler & Wilson vendiam suas máquinas ruidosas e pesadas por Us$100,00, a Willcox & Gibbs, leve, funcional e silenciosa, era oferecida pela metade do preço (Us$50,00).

Wilcox & Gibbs

Além disso, sua máquina dispensava a tarefa do cansativo e intermitente preenchimento das lançadeiras inferiores, como todas as demais, pois que costurava apenas utilizando uma linha, com abastecimento superior.

Afora estas fundamentais qualidades, sua facilidade de utilização, simplicidade mecânica e alta confiabilidade, concorreram para o sucesso de vendas.

logotipo Logotipo da W&G (prateado)

Meses após iniciou a venda também em Coalbrookdale, Inglaterra, extraordinário polo comercial da época e onde começou a revolução industrial.

Propaganda Propaganda distribuida em Londres

As agulhas específicas para as suas máquinas de ponto cadeia também foram patenteadas e especialmente produzidas.

agulha

(cortesia Sewalot)

 

type 200

Modelos para trabalhos específicos foram também produzidas, como esta “Type 200” para confecção de chapéus de palha

 

clone

Algumas indústrias produziram cópias (cerca de 30 conhecidas autorizadas ou não) das Willcox Gibbs, assim como esta, com motorização elétrica, fabricada pela Edredge Sewing Machine Company.

Em 1862, a Willcox & Gibbs já possuía representantes nas maiores cidades da Inglaterra: Londes, Nottingham, Manchester, Leeds, Leicester, Birmingham, Luton...

Além destas, também em outras destacadas cidades européias: Glasgow, Paris, Milan, Bruxelas, Antuérpia...

Willcox Gibs 

W&G nº145336, fabricada em janeiro de 1870, acervo do autor

A partir de 1953, a empresa apresentou déficit e, em 1960 abriu uma fábrica em Orangeburg, Nova Iorque, adquirindo a Raybond Electronics, fabricante de sistemas de colagem e equipamentos de laminação de madeira.

No ano seguinte, Willcox & Gibbs adquiriu a Sunbrand Corp, produtora de itens para a indústria de vestuário, continuando a adquirir pequenas empresas, não relacionadas com máquinas de costurar.

Em 1982 Willcox & Gibbs vendeu os equipamentos de produção de máquina de costurar para uma empresa japonesa, a Pegasus Inc.

A partir de 1994, a empresa, rebatizada Rexel, Inc., dedicou-se apenas na produção de peças, suprimentos elétricos e cabos especiais para computadores e sistemas de comunicações.

Acervo 18a

Willcox & Gibbs situada em destaque na sede do MAMC

O MAMC, tendo também por finalidade a  pesquisa  histórica para a preservação deste e de outros importantes equipamentos mecânicos, fulcros na evolução da humanidade, participará da “Expedicción Sur 2012”, percorrendo a Argentina e o Chile, na pretensão de adquirir  informações e peças para enriquecer seu acervo e suscitar discussões dentre os interessados nestes conhecimentos.

“Uma edição atual do Times contém mais informação que o mortal comum podia receber em toda a vida, na Inglaterra do século XVII. (Richard Saul Wurman - editor americano - 1936/ ..)”

Prof. Darlou D’Arisbo